A exploração de petróleo e gás em novas fronteiras: investimentos fundamentais para a segurança energética brasileira

Francismar Cunha Ferreira

Na última década, as atividades exploratórias no Brasil sofreram uma redução acentuada, resultando em poucos avanços em novas fronteiras. As operações se concentraram em níveis relativamente baixos e em bacias terrestres maduras e no pré-sal. Para garantir a segurança energética do país a médio e longo prazo, é crucial aumentar os investimentos no setor exploratório, com ênfase no desenvolvimento de novas fronteiras.

 

Os investimentos no segmento deverão ser ampliados, mirando não apenas os ativos da Margem Equatorial, Bacia de Pelotas e região do pré-sal, mas também em outras fronteiras. Foto: HeliRye/Getty Images via Canva.

 

Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE-2034) da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a partir da década de 2030, a curva de produção de petróleo no Brasil atingirá seu pico e tenderá a entrar em declínio, mesmo com a entrada em produção de recursos ainda não descobertos. Nesse sentido, a busca de novas reservas se faz necessária para manter o nível de produção e reservas do país de modo a assegurar a segurança energética nacional.

 

Entre 2002 e 2012, foi registrada a perfuração de cerca de 1055 poços pioneiros[1] no país, sendo 45,2% no mar e 54,8% em terra – um número elevado, que foi alavancado pelos investimentos exploratórios da Petrobras especialmente no pré-sal. Já entre 2013 e 2023, foram perfurados apenas 288 poços pioneiros. Uma redução de 72,7% em uma década.

 

 

A queda no número de perfurações no mar foi de 85,1% e em terra foi de 62,4%. Além disso, cerca de 53,4% dos poços perfurados nessa última década se concentraram em áreas classificadas pela ANP[2] como maduras ou de elevado potencial na região do pré-sal. Outras áreas de fronteira, com exceção das bacias de Parnaíba, Amazonas e Solimões, apresentaram poucas ou nenhuma perfuração exploratória no mesmo período, conforme indica o mapa abaixo.

 

Mapa dos setores com classificação exploratória, bacias sedimentares e poços pioneiros perfurados entre 2013 e 2023. Fonte: Nota Técnica nº 06/2022/SAG/ANP. Elaboração: Ineep.

 

A concentração de poços pioneiros em áreas maduras e com elevado potencial no pré-sal pode ser atribuída a dois fatores principais:

 

– O primeiro diz respeito às áreas maduras onshore em que a presença de infraestruturas e o maior conhecimento geológico acaba tornando essas regiões atrativas especialmente para as petroleiras independentes.

 

– O segundo fator, que se revela crucial na diminuição das atividades exploratórias no Brasil, refere-se à queda nos investimentos da Petrobras. Essa redução está atrelada à operação Lava Jato e à mudança de estratégia da estatal a partir de 2016, que passou a focar na redução da dívida a curto prazo e na maximização do retorno aos acionistas. Esse novo direcionamento resultou na diminuição dos investimentos exploratórios da Petrobras em território nacional e, consequentemente, na concentração de suas operações nos ativos do pré-sal.

 

Atualmente, duas fronteiras promissoras se destacam no país: a Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas. A expectativa em relação à primeira aumentou com as descobertas em regiões próximas como Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Já a Bacia de Pelotas, atrai atenção pela sua relativa semelhança geológica com a Bacia do Rio Orange na Namíbia que apresentou importante sucesso exploratório.

 

Nos últimos dez anos, as atividades exploratórias na Margem Equatorial foram praticamente inexistentes como indica o mapa acima. Trata-se de uma região com particularidades socioambientais que exigem processos de licenciamento específicos. Consequentemente, a falta de licenças junto ao Ibama por parte dos operadores resultou na devolução dos blocos. Somente em 2023, 7 blocos na região foram devolvidos à ANP.

 

No entanto, a Petrobras demonstra interesse pela área, prevendo um investimento de US$ 3,1 bilhões em seu atual Plano Estratégico, o que inclui a perfuração de 16 poços.

 

A Bacia de Pelotas, sem perfurações exploratórias desde 2001, atraiu grande interesse durante o 4º ciclo de oferta permanente realizado pela ANP em 2023. Dos 44 blocos leiloados, a Petrobras adquiriu 29, enquanto a Chevron ficou com os 15 restantes. O interesse pela bacia decorre tanto do seu potencial exploratório quanto das dificuldades de licenciamento enfrentadas em outras áreas, especialmente na Margem Equatorial.

 

De acordo com a Nota Técnica nº 08/2022/SAG/ANP, o Brasil conta com 151 setores identificados como novas fronteiras, conforme mostrado no mapa acima. Muitas dessas regiões estão localizadas em áreas social e ambientalmente sensíveis, e, portanto, devem ser preservadas.

 

Entretanto, é possível adotar uma perspectiva mais abrangente, para além da Margem Equatorial e da Bacia de Pelotas. Conforme o Zoneamento Nacional de Recursos de Petróleo e Gás de 2023 da EPE, destacam-se as áreas em águas profundas e ultraprofundas, como as da Bacia do Espírito Santo, Camamu-Almada, Jequitinhonha, Jacuípe e Sergipe-Alagoas, e bacias terrestres, como Parnaíba, São Francisco e Tucano Central como regiões de fronteiras exploratórias com elevada probabilidade de ocorrência de óleo e gás.

 

Em agosto de 2024, a ANP registrou 426 blocos exploratórios sob contrato, o maior número desde sua criação.  No entanto, conforme a ANP[3], entre 2016 e 2023, o Brasil perfurou apenas um poço para cada dez blocos contratados, evidenciando que a contratação, por si só, não representa progresso exploratório concreto. Avanços no setor dependem de investimentos em dados sísmicos e perfurações, indispensáveis para viabilizar novas descobertas.

 

 

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A Petrobras e a iniciativa privada, articulada com a indústria nacional, podem desempenhar um importante papel na retomada das atividades exploratórias. Os investimentos no segmento deverão ser ampliados, mirando não apenas os ativos da Margem Equatorial, Bacia de Pelotas e região do pré-sal, mas também em outras fronteiras, possibilitando novas descobertas no mar e em terra, a reposição das reservas e o desenvolvimento econômico, inclusive de novas regiões.

 

Por fim, vale destacar que investimentos exploratórios não constituem resistência ou barreiras para a transição energética. Segundo a EPE, o setor de exploração e produção de petróleo no Brasil é atualmente o principal financiador das tecnologias necessárias para essa transição, o que demonstra a importância e a complementaridade entre os investimentos exploratórios e a transição energética.

 

Notas

 

[1] De acordo com a resolução 699/2017 da ANP, os poços pioneiros são os primeiros a serem perfurados em um prospecto que visa testar a ocorrência de petróleo ou gás natural.

 

[2] Classificação adotada na Nota Técnica nº 08/2022/SAG/ANP.

 

[3] Informações do Relatório Anual de Exploração de 2023 da ANP.

 


 

Artigo publicado originalmente na TN Petróleo.